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Cooperar para incluir: o papel do cooperativismo na inclusão de pessoas com deficiência

Nascido em Brasília, Fabio Rodrigues de Lima teve, desde a infância, dificuldades de aprendizagem e mobilidade. Por conta disso, vários desafios acompanharam o seu dia a dia  do tempo da escola até o mercado de trabalho. Após se integrar ao cooperativismo, no entanto, ele encontrou um caminho de desenvolvimento profissional e humano.

“Na escola, os professores me explicavam e no momento eu pegava, mas depois me dava aquele branco e eu não aprendia. Eles ensinavam uma, duas, três, até cinquenta vezes, e nada de aprender”, relembra.

Ainda novo, Fábio descobriu ser uma pessoa com deficiência quando foi diagnosticado com uma deficiência intelectual de nível moderado. Essa condição resulta em um desenvolvimento mais lento, gerando a necessidade de apoio em atividades cotidianas nas áreas sociais, acadêmicas e profissionais. Além disso, Fábio descobriu ter discopatia degenerativa, condição que gera limitações físicas como problemas na coluna e na lombar.

Fábio recorda as barreiras que enfrentou nos primeiros anos no mercado de trabalho. “Nas empresas em que trabalhei era muito difícil, as pessoas não tinham paciência”. Foi quando se associou à cooperativa Ecolimpo que ele se sentiu, pela primeira vez, verdadeiramente acolhido. O cooperativismo abriu portas para que o jovem pudesse se desenvolver e crescer profissionalmente.

IMG 3941 1PCDs no mercado de trabalho

Há mais de 30 anos, foi criada a Lei nº 8.213/1991, conhecida como Lei de cotas. A legislação é a primeira a exigir uma reserva de vagas para pessoas com deficiência (PcDs) no mercado de trabalho.

A falta de acesso e acolhimento muitas vezes afasta esse grupo do mundo corporativo, como mostra a pesquisa Pessoa com Deficiência e Emprego, realizada pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo. A Lei de Cotas e outras legislações buscam garantir o acesso de pessoas com deficiência no mercado, além de exigir que as instituições garantam direitos e qualidade de trabalho iguais para todos os colaboradores. 

Fábio descreve situações pelas quais passou em suas primeiras incursões profissionais. “Às vezes, eles falavam alguma coisa e eu não pegava no momento”. Ele lembra que era sempre cobrado por estar sendo “muito lento” e, no fim, era demitido.

“Muitas organizações só aceitam empregar pessoas com deficiência porque é exigido por lei”, desabafa. Para Fábio, essa perspectiva mudou quando entrou em contato com o cooperativismo. “Aqui é onde estou me sentindo bem. Na cooperativa Ecolimpo, eu sou a primeira pessoa com deficiência a exercer um cargo de diretor”.

Cooperativismo surge como oportunidade para inclusão social

Em 2019, Fábio começou a trabalhar na Cooperativa de Trabalho de Catadores Ecolimpo. Com sede em São Sebastião, no Distrito Federal, a Ecolimpo promove o empreendimento social e a economia solidária. Desde 2013, a cooperativa reúne catadores de materiais recicláveis que buscam promover a sustentabilidade por meio do descarte adequado de resíduos.

“Quando entrei aqui, eu não falei que tinha deficiência porque tinha vergonha. Foi só de um tempo para cá que eu comecei a me identificar, falar que eu tenho uma dificuldade”, recorda.

Segundo Fábio, a recepção dos cooperados sempre foi acolhedora e respeitosa. Ao se abrir sobre suas condições, o trabalho foi adaptado para melhor se adequar a suas limitações. Fábio entrou na cooperativa como catador triador, mas logo passou por diversos setores até chegar à diretoria e ao marketing da Ecolimpo, funções que ocupa atualmente.

Crescimento profissional pela cooperação

Para Fábio, a evolução dentro da cooperativa foi complicada porque cada área representava um novo desafio, mas o cooperado sempre contou com apoio de seus colegas de trabalho. “Eu falava ‘e agora? Como eu vou fazer?’, e eles foram me incentivando, falando para eu ter calma, fazer no meu tempo”.

Segundo ele, os lugares em que trabalhou anteriormente não ofereciam o apoio adequado. “Aqui, não. Aqui, quando eu tenho alguma dificuldade, eles vão lá e falam ‘calma, respira. Faça no seu tempo. Não tenha pressa”.

Para crescer na carreira, o atual diretor da Ecolimpo investiu em diversos cursos e capacitações. Para isso, ele teve incentivo de outros cooperados que sempre o lembraram de seu potencial e reforçaram a importância dos estudos. No próximo ano, Fábio pretende estudar gestão de cooperativismo - e conta com incentivo dos colegas de cooperativa.

Impacto da inclusão social vai além do mercado de trabalho

Além de conseguir se desenvolver como profissional, Fábio relata que o acolhimento oferecido pela Ecolimpo impacta outras áreas de sua vida. Habitualmente reservado, hoje ele tem mais facilidade de se comunicar graças ao ambiente encorajador.

“Antigamente, eu era muito tímido e não gostava de falar. Até que fui para a área de mobilização, onde aprendi a me expressar com outras pessoas”, lembra. No setor de mobilização, a cooperativa trabalha em ações com a sociedade, levando conscientização sobre reciclagem e sustentabilidade.

Segundo Fábio, seus colegas foram muito insistentes para que ele pudesse aprender a falar em público e diminuir sua timidez. “Hoje, quando acontece alguma palestra, eu vou lá e falo. Ainda com muita timidez”, confessa, “mas não como antigamente”.

Neste 21 de setembro, Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, a trajetória de Fábio com a Ecolimpo mostra como o cooperativismo é um promotor da inclusão real, proporcionando oportunidades de crescimento profissional e humano por meio da colaboração e da coletividade.

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