União de cooperativas garantiu energia para gaúchos na enchente de 2024
Um ano atrás, quando o Rio Grande do Sul enfrentou a pior tragédia climática da história do estado, o cooperativismo protagonizou uma das maiores ações de solidariedade do país, garantindo energia elétrica para as comunidades que viviam em regiões devastadas pelas enchentes.
A Certel Energia, maior e mais antiga cooperativa de eletrificação brasileira, viu 43 mil associados ficarem sem luz por causa das chuvas, em meio a um cenário devastador. Apenas no Vale do Taquari, umas das regiões mais afetadas, mais de 150 quilômetros de redes de energia da cooperativa foram afetados.
Com cidades inteiras submersas, estradas fechadas, funcionários desalojados e equipamentos destruídos, o desafio para restabelecer a energia era enorme. Mesmo com todos os colaboradores empenhados na tarefa, o trabalho levaria meses para ser concluído. A solução foi colocar em prática um dos princípios do cooperativismo: a intercooperação, com a união de coops do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo para reconstruir o que foi perdido e garantir energia elétrica para parte da população.
Diante desse cenário, nasceu o projeto “Até o último associado”, que mobilizou 450 profissionais de 24 cooperativas de infraestrutura: Certel, Cermissões, Creluz, Ceriluz, Coprel, Cerfox, Creral, Celetro, Certaja, Certhil, Cooperluz, Coopersul, Cervale, Coopernorte, Cosel, Ceprag, Cerbranorte, Coopercocal, Cersul, Ceraçá, Cooperaliança, Cetril, Cervam e Cerpro. Empreiteiras e prefeituras também participaram da força-tarefa.
“Cheios de força de vontade e com o respaldo de suas cooperativas, o movimento permitiu ampliar significativamente a capacidade de reconstrução das redes. Um grupo que trabalhou com coragem e de forma incansável, entre chuva, lama, frio e noites a fio”, lembra o presidente da Certel, Erineo Hennemann.
Cooperação e resultados
Juntas, as cooperativas conseguiram realizar em pouco mais de 20 dias o trabalho que a Certel levaria dois meses se atuasse sozinha. “No dia 24 de maio, 24 dias depois do desastre, a energia foi restabelecida até o último associado”, conta o gestor.
Ao todo, foram 60 mil horas de força de trabalho adicional para levar energia de volta a todos os clientes da Certel, considerando as equipes técnicas de outras cooperativas e as empreiteiras contratadas. Itens como mão de obra e caminhões, além de materiais e equipamentos, foram cedidos pelas cooperativas parceiras para apoiar a reconstrução das redes de distribuição de energia atingidas.
Além da atuação mais rápida e da economia de recursos com a atuação voluntária dos técnicos cooperativistas, Hennemann destaca a união como um dos grandes resultados do projeto. “Apesar de toda a dificuldade, trabalhamos de forma incansável com a resiliência que somente a intercooperação nos proporciona. Celebramos laços que ultrapassam as fronteiras do estado, fortalecemos o movimento cooperativo e mostramos, mais uma vez, nosso valor e força para quem mais nos importa: nosso associado e a sua comunidade”.
Em 2024, a iniciativa foi reconhecida com o Prêmio SomosCoop Melhores do Ano na categoria Intercooperação. O prêmio é entregue pelo Sistema OCB aos melhores projetos cooperativistas do país.
Um ano após a missão, o presidente da Coprel, Jânio Vitalfa, faz questão de lembrar a força da atuação em conjunto para apoiar a população do Rio Grande do Sul a superar a tragédia. “A intercooperação foi crucial naquele momento de crise, mobilizou pessoas e reafirmou o espírito de união, amizade e cooperação”.
O presidente da Cooperativa de Eletricidade de Praia Grande (Ceprag), Patrique Alencar, lembra que o trabalho e apoio não se restringiram à reconstrução do sistema e restabelecimento de energia para os municípios. “O mais importante foi mostrar nossa solidariedade, fortalecendo o cooperativismo e vivendo a verdadeira intercooperação”.
Além de recursos materiais importantes para vencer o desafio das enchentes, a intercooperação também fortaleceu atitudes de esperança, solidariedade e apoio mútuo por meio dos princípios cooperativistas, que ficaram marcados na memória do colaborador da Cerbranorte Deivid Aguiar.
“Todos os que estavam lá tinham o propósito de fazer o máximo possível para que tudo se restabelecesse o quanto antes. Aprendi grandes lições de vida, das quais jamais irei esquecer. Sinto-me honrado em poder contribuir, foram dez dias de muito trabalho com um cenário triste, comunidades destruídas, muita lama e chuva”.