O termo ESG – sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança – tornou-se reconhecido globalmente há 20 anos, quando a ONU publicou, em conjunto com instituições financeiras, o relatório "Who Cares Wins" (“Quem se importa, ganha”, em tradução literal do inglês). O texto conta com recomendações práticas e princípios que devem orientar as organizações. Segundo a Global Sustainable Investment Alliance, mais de 30 trilhões de dólares foram investidos em ESG por todo o planeta em 2022.
As diretrizes ESG e o cooperativismo possuem convergências naturais entre si. O modelo de negócio preza pelo desenvolvimento local de forma sustentável, pela preocupação social e pela gestão coletiva e transparente, aproximando-se das três dimensões do movimento ESG.
As cooperativas brasileiras querem mostrar ao mundo seus cases de desenvolvimento sustentável. As organizações do setor pretendem levar a pauta cooperativista à Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP29), que acontecerá em Baku, no Azerbaijão, entre 11 e 24 de novembro.
Conheça a seguir exemplos de cooperativas brasileiras que aplicam conceitos ESG em seus três pilares: Ambiental, Social e Governança.
Ambiental
O “E” de ESG representa o aspecto Ambiental (Environmental, em inglês). Boas práticas nesse sentido incluem adotar medidas preventivas contra desafios ambientais, como as mudanças climáticas, e trabalhar pelo desenvolvimento de tecnologias sustentáveis.
Letra Financeira sustentável é reconhecida internacionalmente
O Sicredi, um sistema de cooperativas de crédito, tornou-se pioneiro ao emitir, em 2022, a primeira Letra Financeira Pública Sustentável do Brasil. A operação contou com apoio da companhia holandesa Sustainalytics, especializada em projetos ESG.
A Letra Financeira captou R$ 780 milhões em recursos convertidos para projetos de sustentabilidade. Cerca de 40% do montante (R$ 312 milhões) foi repassado a iniciativas de energia sustentável, majoritariamente solar. O restante foi alocado na geração de empregos, através do financiamento de micro, pequenas e médias empresas lideradas por mulheres – beneficiadas com 30%, R$ 234 milhões – ou localizadas em municípios com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) abaixo da média nacional – contempladas com os outros 30%.
O Sicredi foi premiado pelo projeto no Global SME Finance Awards 2023, na categoria “Título Sustentável do Ano”. A Letra Financeira ainda recebeu menção honrosa em “Melhor Financiador para Mulheres Empreendedoras”.
Sicoob Credip fortalece cafeicultura de produtores locais em RO
A Credip, uma das cooperativas do sistema financeiro Sicoob que atua em Rondônia, colaborou com o desenvolvimento da cafeicultura no estado. A região atualmente convive com problemas ambientais – por exemplo, mais de 1.800 focos de queimadas foram registrados apenas em setembro, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Em meio a esse cenário, a agricultura local orientada por inteligência da Credip aparece como exemplo de produtividade sustentável.
Os pequenos produtores são orientados por estratégias que os ajudam a não se tornarem potenciais desmatadores. A Credip deu suporte financeiro aos avanços científicos que permitiram a elaboração de uma genética de café específica da região. Com tecnologias produtivas, o estado aumentou sua produção de 2 milhões de sacas de café para mais de 3 milhões, mesmo reduzindo em mais de 80% na área plantada.
O café é a quinta cultura mais produzida em Rondônia (mais de 137 mil toneladas), segundo dados do governo estadual sobre o ano de 2020. O produto da região tem conquistado reconhecimento nacional. Cafés especiais torrados rondonenses ficaram nas cinco primeiras posições em prêmio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA Brasil Artesanal 2024.
Social
O segundo pilar do ESG é o Social. Corresponde à relação da organização com o seu entorno, incluindo, por exemplo, iniciativas de apoio à diversidade e posicionamento em relação a causas sociais.
Organização demarca presença feminina na agricultura
A Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região (Coopfam), especializada em cafeicultura, lidera o projeto Mulheres Organizadas em Busca da Igualdade (MOBI). O movimento visa trazer inclusão feminina em setor no qual elas ainda são minoria. Segundo o Anuário do Cooperativismo 2024, apenas 18% dos cooperados no setor agropecuário brasileiro são mulheres.
O grupo promove debate sobre desenvolvimento pessoal e profissional, e contribui para o surgimento de lideranças femininas na Coopfam. A cooperativa atualmente é presidida por Vânia Lúcia Pereira da Silva, eleita em 2019 – primeira mulher a alcançar o cargo.
Uma iniciativa de sucesso do MOBI foi a elaboração de uma linha de café feminino, criada para enaltecer e empoderar o trabalho das cooperadas. O produto foi servido na Copa do Mundo de 2014 e nos Jogos Olímpicos do Rio 2016, levando o trabalho das agricultoras a eventos de repercussão mundial.
Uma nova maneira de atender cooperados surdos
A CooperJohnson, cooperativa de crédito de São José dos Campos voltada aos funcionários da Johnson & Johnson, desenvolveu um canal de atendimento para cooperados surdos. A demanda foi identificada em 2019 e contemplada após avaliações. Segundo dados do IBGE relativos a 2021, mais de 10 milhões de brasileiros têm alguma deficiência auditiva, e 2,7 milhões possuem surdez profunda.
A tecnologia para tornar os atendimentos mais acessíveis recorreu ao ICOM, um serviço de tradução simultânea de Libras. O sistema triangula a comunicação entre o surdo, o ouvinte e o intérprete através de videochamada, facilitando a troca de informações que antes era limitada a ligações telefônicas.
A CooperJohnson detectou aumento na quantidade de atendimentos ao público surdo. A tecnologia do ICOM ainda fornece métricas que identificam detalhes, como tempo de serviço e o motivo que levou ao contato. Assim, há ferramentas para aprimorar ainda mais a inclusão a esse segmento de cooperados.
Governança
A terceira – mas não menos importante – base do ESG é a Governança (Governance, em inglês). A gestão de uma organização deve ser transparente e combater a corrupção. Esses ideais de comando convergem com a forma cooperativista de gerenciamento.
Estruturação de processos orienta crescimento da Castrolanda
A Castrolanda, cooperativa paranaense com operações agrícolas e industriais, passou por crescimento acelerado na década de 2010. Nesse cenário, a companhia se viu obrigada a aumentar a transparência na seleção e no acompanhamento de projetos. A solução encontrada foi a criação de um escritório de projetos – também conhecido como PMO, sigla para Project Management Office.
O PMO surgiu como forma de alinhar os interesses de todas as áreas da Castrolanda. O escritório estabeleceu uma estrutura para projetos com investimento superior a R$ 200 mil. Todos precisam ser aprovados em colegiado, passando por termo de submissão, análise tributária, legislação ambiental, trabalhista e cálculo de indicadores financeiros. Ao longo de dois anos, gestores de diversas áreas receberam capacitação para lidar com as novas demandas.
A iniciativa alinhou interesses de diferentes setores da Castrolanda e trouxe resultados positivos, como maior previsibilidade de resultados, controle de produção e redução de riscos. Os processos estabelecidos não se aplicam somente ao planejamento dos projetos, contando também com acompanhamento próximo à execução.
Unimed Chapecó vira referência na área da saúde
Operadoras de planos de saúde possuem obrigação legal de adotarem medidas mínimas de governança para atender à Resolução Normativa 518/22 da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), levando em consideração transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa. Entretanto, a cooperativa de Chapecó do sistema Unimed identificou a necessidade de ir além, em benefício da própria cooperativa.
A organização avaliou o que já estava em curso dentro de seu ambiente e se planejou para incorporar práticas avançadas de governança sob liderança do Núcleo de Governança Corporativa, criado em 2020. O Estatuto Social foi reformulado, e os procedimentos passaram por mudanças. O mapeamento de riscos corporativos, o monitoramento da eficácia de ações e o Programa de Integridade para compliance tornaram-se parte do funcionamento.
A iniciativa colocou a Unimed Chapecó à frente da maioria das operadoras de planos de saúde no quesito governança, segundo a coordenadora do Núcleo de Governança Corporativa Josiane Brighenti. A meta agora é institucionalizar as mudanças adotadas e aprimorar a aplicação das boas práticas.
Cooperativismo e ESG
Casos como os detalhados neste texto mostram que cooperativismo tem tudo a ver com desenvolvimento sustentável. Adotar medidas em prol do meio ambiente e da sociedade como um todo é fundamental para esse modelo de negócio.
Para conhecer a fundo mais cases de sucesso, acesse o Cooperação Ambiental! Neste portal, você encontra iniciativas ambientais, ações sociais, detalhes sobre a participação brasileira nas edições da COP e mais sobre o mundo das cooperativas.
A geração Z está tomando cada vez mais espaço na economia ao ocupar lugares no mercado de trabalho e por seus comportamentos de consumo. Em 2020, essa parcela da população já representava 40% dos consumidores globais, de acordo com estudos da McKinsey.
As cooperativas precisam estar atentas à geração Z para conseguir atrair novos talentos, rejuvenescer os quadros sociais e proporcionar produtos e serviços atrativos. A boa notícia é que as cooperativas e a geração Z têm muita coisa em comum.
Como o cooperativismo se adequa às tendências da Geração Z
A geração Z abraça todos aqueles nascidos entre 1995 e 2010. Essa parcela da população é marcada pela presença total no mundo digital e o acesso a informações novas a cada instante. Os jovens dessa geração são superestimulados e acreditam na realidade simultânea, em que se podem realizar diversas atividades ao mesmo tempo.
Além disso, essa geração possui alguns ideais muito definidos, como a diversidade, a inclusão, a priorização da qualidade de vida, o ativismo, o desejo de construir um mundo melhor e a cooperação. Nesse sentido, o cooperativismo pode se adequar totalmente às tendências dos jovens.
A busca pelo propósito
Um fator muito importante para a geração Z é encontrar propósito nas suas funções do dia a dia. De acordo com um estudo da Deloitte, 86% dos jovens acreditam que enxergar propósito no seu trabalho é muito importante para sua satisfação profissional e bem-estar.
Por isso, estar ligado a modelos de negócio como o cooperativismo - que é guiado por princípios e pensado para impactar positivamente a sociedade - consegue oferecer aos jovens os propósitos com os quais eles se identificam.
A importância do pertencimento
Outra característica da geração Z é a preocupação com o pertencimento. Os jovens buscam por oportunidades profissionais das quais tenham orgulho de pertencer e organizações em que se sintam motivados a participar ativamente dos projetos.
O cooperativismo também se encaixa na busca por pertencimento da geração Z. Tendo em vista o impacto direto das cooperativas na comunidade e sua gestão democrática, fica mais fácil para os jovens se identificarem e se sentirem pertencentes a esse modelo tão participativo.
Consumo consciente e sustentável
Uma grande preocupação da geração Z é o impacto ambiental. De acordo com o estudo da Deloitte, 25% dos jovens já cortaram relações com negócios cuja parte do modelo de produção não era sustentável.
Os cuidados com o meio ambiente são parte da preocupação das cooperativas. O modelo cooperativista se preocupa com o impacto na comunidade em geral, desde aspectos sociais até ambientais.
Impacto social e comunitário
Ainda de acordo com a pesquisa da Deloitte, 63% da geração Z compactua e acredita em negócios com o poder de promover igualdade social. Nesse quesito, as cooperativas se encaixam perfeitamente com o desejo por uma sociedade mais justa dos jovens.
Pensando que o sétimo princípio do cooperativismo é o interesse pela comunidade, as atitudes das cooperativas são totalmente pensadas no impacto social. Assim, a geração Z pode encontrar propósito na sua vida profissional e se identificar com os valores da organização.
Horizontalidade e gestão descentralizada
Em entrevista realizada durante o 15° CBC, o professor, palestrante e escritor Dado Schneider, falou sobre o novo modelo de gestão acatado pela geração Z. De acordo com Schneider, com o advento das redes sociais e, consequentemente, do fácil acesso à informação, a cadeia de comandos se tornou horizontal ao invés de vertical e centralizada.
Esse é outro motivo pelo qual a geração Z se encaixa tão bem com o cooperativismo. O segundo princípio do cooperativismo gira em torno da gestão democrática e, por isso, os jovens conseguem se adaptar bem a esse modelo.
Os desafios para trazer a Geração Z ao cooperativismo
Apesar de ideais similares, a taxa de adesão dos jovens ao cooperativismo ainda não é tão alta. Ainda existem alguns desafios que precisam ser superados visando uma maior participação da geração Z em cooperativas.
A comunicação com os jovens
Dado Schneider afirma que um grande problema do cooperativismo é não se comunicar propriamente com a geração Z. Segundo ele, muitas pessoas encaram esse grupo apenas como mais uma geração de jovens, mas se esquecem que essa parcela da população apresenta características únicas, nunca antes vistas.
Por isso, é necessário que as cooperativas adequem sua comunicação com a geração Z, visando tornar o modelo cooperativista atrativo aos jovens. Por meio de alguns truques de linguagem simples, é possível aproximar as cooperativas dessa parcela da população. Como já existe um alinhamento de princípios, basta essa mudança de diálogo para gerar identificação entre o cooperativismo e a geração Z.
Conhecer e entender seus valores
Para conseguir se comunicar com a geração Z é preciso entender seus valores e ideais. Muitos consideram essa nova parcela da população como os mais disruptores desde a época dos hippies e, por isso, eles têm seus princípios bem definidos e os levam muito a sério.
As gerações mais velhas precisam manter a mente aberta para se adaptarem a algumas peculiaridades dos mais jovens, como sua preocupação com o impacto ambiental e social das organizações.
É preciso, por exemplo, que as pessoas com mais experiência de mercado estejam dispostas a flexibilizar seu modo de pensar e produzir para abraçar os ideais dessa nova geração.
A nova cultura do trabalho
Um ponto divergente da geração Z em relação às outras gerações é a cultura de trabalho. Os jovens trocaram o lema de antigamente de “viver para trabalhar” por “trabalhar para viver”. Por isso, a nova geração valoriza muito um estilo de vida saudável e faz questão de priorizar suas atividades pessoais.
Além disso, a geração Z é extremamente preocupada com a manutenção da saúde mental, e evita atividades que possam atingi-la. Portanto, as cooperativas precisam adaptar e flexibilizar seu ambiente de trabalho para que ele se torne mais atrativo para os jovens. A adoção de benefícios focados no bem estar físico e mental e o modelo de trabalho híbrido são algumas das atitudes tomadas por organizações visando a retenção de talentos da geração Z.
Cooperativas apostam na juventude
Muitas cooperativas já perceberam o poder da geração Z e como pode ser benéfico contar com esses jovens na base de cooperados e clientes. Por isso, muitas delas adaptaram sua comunicação e criaram projetos específicos para atração dessa nova geração.
Núcleo Jovem Coplacana
A Coplacana fez um diagnóstico preocupante: a falta de engajamento dos jovens e a crescente idade de seus cooperados. Com um público predominantemente mais velho, a cooperativa viu a necessidade de atrair uma geração jovem.
A barreira geracional era evidente, com lideranças mais velhas dominando a cooperativa, o que levantava a necessidade de diversificar e integrar novas lideranças. O Núcleo Jovem Coplacana busca, portanto, aproximar as gerações mais novas, preparando-as para futuras posições nos conselhos administrativos e fiscais, criando uma sucessão eficaz e promovendo a perenização da cooperativa.
A cooperativa focou na faixa etária de 16 a 35 anos, compreendendo os indivíduos que estavam decidindo sobre suas carreiras e ainda podiam ser influenciados positivamente. A estratégia era garantir a continuidade da cooperativa ao envolver os jovens no agronegócio, tanto para assumir cargos internos quanto para se tornarem proprietários rurais. A abordagem não se limitava a agricultores, mas se estendia a diversas áreas, incluindo administração e direito.
Juventude Cooperativista e Coonectada da Cresol
A fim de estimular a sucessão familiar e a integração das novas gerações ao cooperativismo, o Sistema Cresol desenvolveu os projetos Juventude Cooperativista e Juventude Conectada. Boa parte do quadro social da Cresol está em uma faixa etária mais elevada. Com isso, a organização não se preocupa apenas com a sucessão que ocorre dentro dos empreendimentos familiares, mas também com a da cooperativa, a fim de que os sucessores também se tornem cooperados.
A principal iniciativa, atualmente, é por meio do projeto Juventude Conectada. Nela, jovens de todo o Brasil que sejam cooperados ou filhos de cooperados participam de uma jornada de aprendizagem on-line durante 14 semanas. Em 2023 o programa teve sua quarta edição.
Ao todo, 1.284 jovens já passaram pelo programa Juventude Conectada e a cooperativa avalia que os resultados obtidos até então são extremamente satisfatórios. O envolvimento dos jovens com a cooperativa também aumentou e agora eles fazem parte dos conselhos de administração e fiscal, assim como se tornam Embaixadores Cresol, um projeto que busca conectar cooperados e comunidade.
O cooperativismo é uma solução ideal para a geração Z, já que alinha os princípios de colaboração, inclusão e sustentabilidade com as expectativas e valores desses jovens. A geração Z valoriza negócios que promovam igualdade social, impactem a comunidade e possuam um modelo de trabalho mais democrático - valores presentes na lógica cooperativista.
Portanto, as cooperativas oferecem um ambiente em que a geração Z possa se desenvolver não apenas profissionalmente, mas também pessoalmente, além de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e sustentável.
Unindo a visão inovadora dos jovens com os propósitos cooperativistas, se torna viável a construção de uma sociedade cada vez mais justa e sustentável. O cooperativismo é não apenas uma alternativa viável, mas uma escolha estratégica que reflete profundamente as aspirações e o espírito dessa geração. É o match perfeito!
A professora paraense Alana Adinaele conheceu o cooperativismo bem cedo, ainda na infância, na Cooperativa dos Educadores Autônomos de Castanhal (CEAC), escola onde aprendeu as primeiras letras e palavras, na alfabetização. Anos depois, tornou-se professora, cooperada e hoje é diretora administrativa da instituição, que tem seis unidades e é referência na educação infantil e ensino fundamental no município, localizado na Região Metropolitana de Belém.
“Foi uma experiência que moldou toda a minha trajetória. Eu já sabia que minha escola era diferente, que se preocupava com as pessoas, com o meio ambiente. Depois entendi que o fato de ela ser uma cooperativa tinha tudo a ver com o que ela representa para a comunidade, não só para os alunos e professores, mas para todo mundo em volta”, conta Alana.
Com mais de 20 anos de atuação, a CEAC é uma das 213 cooperativas educacionais em funcionamento no país, que reúnem mais de 190 mil cooperados e geram cerca de cinco mil empregos diretos. Segundo dados do Sistema OCB, a maioria das escolas cooperativistas brasileiras são pequenas e médias, com até 500 matrículas. Em 2023, o segmento educacional cooperativista gerou R$802 milhões em receitas. Mas o principal resultado é outro: as coops educacionais têm ajudado a formar novos cooperativistas pelo Brasil.
Nas escolas da CEAC, por exemplo, além da grade curricular tradicional, os estudantes têm aulas de cooperativismo e, por meio de atividades lúdicas, aprendem desde pequenos a valorizar a união, a solidariedade e a cultura de cooperação.
“Esse é o principal diferencial de fazer parte de uma cooperativa educacional. Não é só a educação pela educação, mas como ferramenta para ajudar a formar pessoas mais conscientes, que se preocupam de fato com a sustentabilidade das pessoas e do planeta”, pondera Alana.
O projeto pedagógico diferenciado da cooperativa paraense segue diretrizes do Cooperjovem, um programa nacional do Sistema OCB que estimula a inclusão do cooperativismo na grade de ensino regular de escolas públicas e privadas.
A iniciativa promove a cultura da cooperação no ambiente escolar, incentivando o envolvimento de professores, estudantes, famílias e comunidade, com base em valores como voluntariado, autonomia e ajuda mútua.
O Cooperjovem é estruturado em quatro eixos temáticos: educação cooperativista, empreendedora, financeira e ambiental.
“O Cooperjovem tem como propósito formar protagonistas na construção de uma sociedade consciente, colaborativa e próspera. Entre as competências gerais que devem ser desenvolvidas ao longo da educação básica, a Base Nacional Comum Curricular [BNCC] destaca a empatia e a cooperação, que têm como objetivo formar sujeitos capazes de respeitar as diferenças, trabalhar em equipe, tomar decisões, realizar ações e projetos de forma cooperativa”, explica a gerente de Desenvolvimento de Cooperativas do Sistema OCB, Débora Ingrisano.
Em 2019, uma pesquisa com professores, pais e alunos comprovou o impacto positivo do Cooperjovem para o aumento do nível de conhecimentos, habilidades e atitudes cooperativas. Ou seja, os estudantes que passam pelo programa desenvolvem competências colaborativas de forma mais significativa do que aqueles que não participam.
Alana confirma essa transformação positiva na prática, e afirma que os resultados ultrapassam os muros da escola e beneficiam toda a comunidade local. “A gente vê os nossos alunos extremamente envolvidos em boas causas justamente por conta da cooperativa, vê nossos alunos consumindo produtos coop, alguns já querendo querendo constituir uma cooperativa. E isso é muito gratificante. Como professora de cooperativismo fico extremamente emocionada”, conta, orgulhosa a cooperativista, que também é coordenadora geral do Comitê Nacional de Jovens do Sistema OCB, o Geração C.
Minicidade cooperativista
Na outra ponta do país, uma cooperativa educacional de Concórdia, em Santa Catarina, tornou-se referência nacional por um projeto inovador: uma minicidade cooperativista. Isso mesmo, a Cooperativa Educacional Magna - Colégio CEM criou uma pequena comunidade com Prefeitura, Câmara de Vereadores, espaço cultural, biblioteca, centro de convenções, supermercado e cooperativas de crédito. A minicidade tem regras de trânsito e até eleição de prefeito.
Tudo pensado para que os estudantes e professores vivenciem experiências reais em que possam colocar em prática os princípios do cooperativismo. Na minicidade coop, os cerca de 500 estudantes do Colégio CEM são estimulados a aplicar valores como cidadania e cooperação em atividades que envolvem todas as disciplinas curriculares.
“Queremos que os nossos alunos desenvolvam valores e princípios que os levem a perceber e a efetivar mudanças de comportamento, de paradigma e a transformação de sua realidade política e social. Queremos incentivá-los a terem respeito com o outro e com a comunidade que está a sua volta”, explicou a presidente da cooperativa, Elizeth Pelegrini, em uma reportagem especial publicada pela Revista Saber Cooperar.
Criado a partir da união de professores que formaram a cooperativa para evitar o fechamento da escola onde trabalhavam, o CEM já completou 26 anos formando novos cooperativistas e coleciona prêmios e reconhecimentos pela minicidade cooperativista e outros projetos pedagógicos. “Nós temos a oportunidade de vivenciar todos os dias o cooperativismo na nossa instituição. Os alunos podem colocar em prática o que aprendem em sala de aula e aplicar isso ao longo da vida”, acrescenta Elizeth.
Websérie detalha de forma simples e leve o que é, os princípios e como funciona o modelo de negócios
Que tal conhecer um pouco mais sobre o cooperativismo e os diferenciais desse modelo de negócio que leva prosperidade para todos a sua volta? O SomosCoop acaba de lançar a websérie Bora Entender, planejada para explicar de forma simples e leve o que é, como funciona, onde o coop está presente e o que o tornou tão importante para o desenvolvimento social e econômico no Brasil e no mundo. A primeira temporada conta com quatro episódios no total e o primeiro, História e princípios do cooperativismo, já está disponível no canal do SomosCoop no Youtube.
A união de pessoas para alcançar um objetivo econômico comum que gera oportunidades de trabalho, melhora a qualidade de vida de produtores rurais, leva infraestrutura para as mais diversas regiões do país, bem como outros benefícios inerentes ao cooperativismo são alguns dos pontos explorados no primeiro episódio. Além disso, são detalhados os sete princípios que regem suas atividades e um pouco da história que envolve a criação do movimento em 1844, na Inglaterra.
Já o segundo episódio, Onde estão as cooperativas, explora o fato de que o cooperativismo está presente nas mais diversas atividades econômicas e em todas as regiões do Brasil, bem perto de todos. Ele cuida do desenvolvimento sustentável, leva comida às mesas da população, faz a diferença na saúde, atua no transporte de passageiros e cargas, oferece serviços bancários, internet e eletricidade para campo, gera empregos, contribui para a educação e muito mais. Tudo isso com um jeito mais humano, cuidados e atento ao que precisamos enquanto sociedade.
Mas, Como funciona uma cooperativa na prática? O terceiro episódio detalha. Com ele, fica bem mais fácil entender como as cooperativas se organizam e desenvolvem suas atividades na prática. Os sete ramos de atuação são detalhados, assim como os requisitos necessários para formar, desenvolver e manter uma cooperativa forte e sustentável, com resultados positivos para seus cooperados e comunidades. Mostra ainda que, com boas práticas de gestão e governança, a coop pode prosperar e se transformar em uma gigante do setor, inclusive desenvolvendo seu potencial em mercado além das fronteiras brasileiras.
E Será que o coop é bom para mim? Com certeza! O último episódio da websérie destaca como o modelo de negócio oferece benefícios para todo mundo que busca um mundo mais justo e próspero. Para quem escolhe ser cooperado, o coop é a certeza de poder participar das decisões de forma democrática e usufruir da força de fazer junto. Para quem busca trabalho, o cooperativismo é uma excelente opção e está sempre a procura de profissionais inovadores e com coragem de pensar e de fazer diferente. E, para quem compra, o coop entrega qualidade, preço justo e responsabilidade socioambiental.
Ficou inspirado para saber mais e descobrir outros detalhes sobre o cooperativismo?
Então, acesse já o primeiro episódio da websérie e aguarde os demais toda quarta-feira no nosso canal.
Juntos, SomosCoop!
A solidariedade está na essência do cooperativismo e orienta o nosso jeito de fazer negócios, gerar trabalho e renda. No coop, os resultados só fazem sentido com responsabilidade social, compromisso que diferencia as cooperativas das empresas convencionais e que fazem do nosso modelo a melhor opção para a economia do presente e do futuro, com atuação ética e sustentável.
Para as cooperativas brasileiras, a sustentabilidade não é apenas uma tendência, uma palavra bonita. É um compromisso essencial, um objetivo tanto econômico quanto social. Estudos comprovam que onde tem cooperativa, a economia local se desenvolve mais, com benefícios diretos para a comunidade.
Seja por meio da geração de emprego ou pelo estímulo ao comércio local, ao exercer suas atividades, as cooperativas acabam investindo recursos nas comunidades. E algumas coops vão além, impactando ainda mais a fundo a vida de cada indivíduo e construindo laços entre pessoas.
Quando o Rio Grande do Sul passou por inundações causadas pelas fortes chuvas que atingiram o estado em maio deste ano, o movimento cooperativista prontamente se uniu para trabalhar pela reconstrução do que foi perdido. As ações seguem em andamento e mobilizam os sete ramos, seja por meio de doações, parcerias com entidades e prefeituras, oferta de recursos emergenciais e presença física em centros de distribuição.
Respeito à tradição
O cooperativismo é a melhor alternativa para quem deseja fazer negócios de forma honesta, digna e com respeito à diversidade.
Foi assim que surgiu, em fevereiro de 2019, a Cooperativa Mista dos Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte, a Coopaflora. A coop abraça a pluralidade dos povos indígenas, quilombolas e assentados dos municípios de Alenquer e Oriximiná, no Pará; e de Nhamundá, no Amazonas.
A região de atuação da Coopaflora é considerada uma das mais conservadas da Amazônia brasileira. E a cooperativa tem participação direta nisso, por promover a extração sustentável de frutos como pimenta, cumaru, andiroba e copaíba. Os processos são realizados seguindo a tradição indígena, em uma jornada que requer preparo e experiência, como na extração da castanha-do-pará, quando os extrativistas passam dias na mata buscando os frutos da castanheira.
Em pouco mais de cinco anos, a cooperativa passou de 36 para 100 cooperados. Segundo a presidente da Coopaflora, Daiana Silva, aproximadamente 400 famílias se beneficiam das atividades nos territórios onde a coop está. “Manter a floresta em pé gera uma economia sustentável”, afirma.
“O cooperativismo dá oportunidade para várias famílias venderem o que produzem de forma digna e ética, valorizando a todos”, complementa Daiana. Exemplo disso é a rastreabilidade dos frutos: quem compra castanha da Coopaflora consegue identificar a história por trás daquele produto, de qual território ele saiu, se quilombola ou indígena, e como chegou ao mercado.
Esse tipo de informação é cada vez mais valorizado pelo consumidor consciente. Segundo a especialista em estratégia empresarial e sustentabilidade Claudia Leite, o propósito de um negócio gera sensação de confiança entre os envolvidos. “É a razão fundamental para que aquela organização exista, a diferença que ela faz no mundo. É aquilo que ela executa todos os dias para gerar valor para todos aqueles que impactam ou são impactados no negócio”, destaca Claudia. “E gerar valor para o negócio aumenta valor de mercado, reputação, retorno financeiro e crescimento”, acrescenta.
Construindo propósito
Mas qual o caminho para chegar a negócios com propósito? De acordo com a especialista, o primeiro passo é definir qual a cultura e as políticas organizacionais que vão nesse sentido, e nisso o cooperativismo sai na frente, porque é um sistema econômico baseado em princípios. “Eu vejo o cooperativismo como uma gestão virtuosa que, na essência, já nasce a partir de seus princípios, de seus valores, muito alinhado com aquilo que se espera do propósito de uma organização”, afirma.
Segundo Claudia Leite, a cultura de um negócio tem a ver com normas e valores que vão determinar como os colaboradores e demais participantes irão agir. Ela orienta tanto o comportamento interno quanto a relação com os consumidores e a comunidade. E tudo isso precisa ser refletido em ações, para que a sustentabilidade seja, de fato, uma realidade, não apenas uma aspiração ou uma maquiagem de responsabilidade social e ambiental.
No mercado, há um termo para quem cria ações sustentáveis de pouca ou nenhuma aplicação prática: greenwashing. São geralmente marcas que fazem marketing sobre suas ações de sustentabilidade, mas não conseguem comprová-las com certificações de sustentabilidade reconhecidas nem oferecem meios de provas práticas de preservação do meio ambiente e respeito às pessoas.
O cooperativismo, por essência, sabe disso e preza por iniciativas sólidas e verdadeiramente conscientes. “É um modelo de negócios que é essencialmente sustentável e também correto em toda a maneira que ele faz essa gestão e esse compartilhamento das responsabilidades. No cooperativismo de crédito, por exemplo, há o compartilhamento inclusive dos resultados”, pondera a especialista.
Oportunidade para todos
Sensibilizada com as condições de vida das mulheres e o interesse delas em estudar e trabalhar, Carmen se mobilizou e, com apoio do Sistema OCB/PA, criou a cooperativa na intenção de gerar trabalho e renda para que elas pudessem sustentar suas famílias. Tudo começou com um curso de qualificação profissional de artesanato. Após a formação, as cooperadas começaram a produzir suas peças com máquinas de costura doadas por uma cooperativa da Polícia Militar local. Todo o material criado foi vendido em uma feira e o valor arrecadado foi inteiramente distribuído entre as novas empreendedoras. Atualmente, a Coostafe é formada por cerca de 30 mulheres em privação de liberdade que trabalham na criação de peças de artesanato, costura, pintura e bordado. A produção é vendida em feiras e mostras de artesanato em todo o estado. Mais de 200 mulheres já participaram da cooperativa desde a sua fundação. |